Este tem sido, desde a antiguidade, o alimento dos pobres de espírito. Os atuais regimes pouco democráticos, continuam a explorar com sucesso esta receita.
As massas reprimidas precisão de válvulas de escape para a sua condição social. O espetáculo do sofrimento dos outros, apaziga-os. É como uma injeção periódica de resignação para a covardia moral.
"Pão", leia-se migalhas e pobreza económica; bem como "circo", leia-se entretenimento com o sofrimento de alguém que reflete a condição dos espectadores. Este tem sido o alimento dos pobres de espírito desde a antiguidade e os regimes fascistas da atualidade continuam a explora-lo com sucesso.
As massas reprimidas sempre gostaram de ver espelhados nos circos a sua condição de escravos: o leão, que poderia despedaçar com um simples golpe o seu domador, mas que afinal continua a obedecer ao som do chicote deste; ou então as touradas, onde o touro, com a sua enorme força e estupidez, repetidamente se deixa enganar pelas fintas de um cavaleiro que sempre representou uma aristocracia opressora do povo. Hoje, os atuais políticos republicanos, ainda os usam como instrumento político. No fim, ainda conseguem obter os votos do povo, povo esse que, tal como o touro, pouco vê e nada reflete - “Se estes animais tão fortes assim são dominados pelas elites, que podemos nós, simples cidadãos, fazer contra o nosso destino?"
Subliminarmente isto dá forças ao povo para continuar na sua relação de dependência para com o Poder (e uma grande desculpa). Isto ajuda-os a se resignarem aos fatalismos da vida social, acovardando-se perante o efeito intimidador da violência de um espetáculo disfarçado de festa que já conhecem desde a infância, mas que nunca perceberam muito bem qual a verdadeira finalidade. No fim do circo normalmente oferece-se sempre pão… ou uns bifes. Nos tempos da inquisição, queimavam-se pessoas na praça pública e estas enchiam-se de gente que de forma voluntaria ali se dirigiam à procura de um motivo forte para não fazerem aquilo que lhes apetecia fazer – revoltarem-se contra o poder opressivo de Roma.
"As massas reprimidas sempre gostaram de ver espelhados nos circos a sua condição de escravos."
Desenvolvimento económico conduz à redução da pobreza, a menos desigualdades sociais bem como a cidadãos mais autónomos. Para aqueles líderes que gostam de governar pelos argumentos da força (intimidação) isto constitui uma situação muito desvantajosa. Daí que seja importante manter a população habituada a viver com migalhas. Isto cria a ilusão do “privilegiado”, aquele que sabe que se colaborar com os poderosos poderá obter mais algumas migalhas e assim fugir do meio dos miseráveis. Para o caso daqueles que se encontram no fundo da escala social, é-lhes oferecida a comparação com os animais, última réstia de privilégio, como nas touradas. Para os cidadãos comuns, onde se inclui a classe média, habituados a viver com pouco, qualquer melhoria oferecida pelo Poder, por mais miserável que seja, é como uma dádiva dos deuses, colocando-os eternamente agradecidos às elites.
À semelhança de uma foca num espetáculo de circo, que se bater palmas recebe uma sardinha, muitos cidadãos assim andam ao longo das suas vidas, sempre a "rezar" por um aumentozinho, quando os políticos quiserem, ou então uma tão desejada promoção.
Para aqueles seres humanos que se encontram no fundo da escala social, é-lhes oferecida a comparação com os animais, última réstia de um tão desejado estatuto do privilegiado. Para isso servem também as touradas.
Dar comida à boca dos pobres, ao contrário do que os crédulos poderão pensar, não acaba com a pobreza, antes pelo contrário. Aquilo que de início eram 10 pobres a serem ajudados, rapidamente se transforma em 50. Daí o conhecido proverbio chinês – não dês peixe a um pobre, ensina-o antes a pescar.
"Nos tempos da inquisição, queimavam-se pessoas na praça pública e estas enchiam-se de gente que de forma voluntaria ali se dirigiam. Procuravam afinal um motivo forte para não fazerem aquilo que lhes apetecia fazer – revoltarem-se contra o poder opressivo de Roma."
Tem sido a alimentar a pobreza que a igreja católica tem ganho poder ao longo dos séculos: reforça o seu papel social e angaria e justifica a existência de dinheiros associados. É ainda aí onde recruta os seus mais leais servidores. Por fim alimenta a ilusão do privilegiado, atuando como moleta ideológica do Poder.
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